Páginas

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vitória

Ainda de olhos abertos aquele pequeno corpo cai lentamente e repousa no chão. Ele fica paralisado ao ver os olhinhos dela se fecharem como se fosse a hora de criança esta na cama. A culpa o congela e ele permanece parado no beco. Larga a pistola cromada ao chão. Se desfaz do fuzil pendurado no ombro e a mochila carregada de granadas, drogas e um desenho de sua filhinha despenca de suas costas. Um tiro rasga lhe o braço esquerdo e ele permanece imóvel. Outro tiro, agora de fogo amigo, transpassa e estraçalha o ombro direito . O sangue escorre como cachoeira. Seguem mais um tiro que lhe arranca a orelha e outro que desintegra a rótula e ele cai de joelhos. Como um tronco de árvore caído da floresta, ele não esboça nem uma reação. Nem dor. Nem medo. O tiro fatal lhe atinge as costa e se aloja no pulmão esquerdo ao lado do coração. Tomba ao lado do pequeno corpo. Sente falta de ar. Tenta respirar. Não consegue. Desiste. Antes das ultimas batidas do coração uma lágrima cai do olho. Os pensamentos todos vem com um bloco. A sua vida inteira passa por sua mente no tempo de uma batida de coração. E a culpa lhe apaga a luz. Leva lhe a vida. Não sabe que o responsável por aquilo não foi ele. Nem sabe o tenente recem-formado que atirou por medo naquele pequeno ser que tinha o mesmo nome de sua filha e da filha dele. Vitória.

Nenhum comentário: