Lembro quando ainda jogava futebol no campinho "toca-da-raposa" lá perto casa. Como diriam "long, long, time..." Bons tempos aqueles. Tempos de revoadas de tanajuras, de lanternas feitas com vela e latas de leite em pó, de futebol descalço na chuva.
Ainda lembro-me daquela menina que olhava da janela os meninos jogarem bola.
O campinho ficava submerso nas chuvas de final de verão. O dia parecia ter 24 dias...e mais um por de sol anunciava o fim das férias escolares.
A menina na janela não me saia da memória. De olhos doces, cabelos lisos e compridos, de um sorriso que faria qualquer um de nós, meninos, virar herois, gladiadores, piratas ou lutadores de telequete ( este era o nome que davam as lutas livres na televisão).
Àquela menina era ao mesmo tempo linda e enigmática. Só a viamos nos períodos de férias de final de ano. E foram só dois finais de ano. Ela passava este tempo na casa da avó. Uma senhorinha muito simpática, mas que se tranformava em um monstro quando a bola fugia para a sua casa em direção do telhado ou do jardim, meticusamente cuidado.
Depois que a senhorinha se mudou... e não vi mais aquela menina.
Quando a gente é moleque, a vida se mostra em sua forma mais intensa. Cada brincadeira se transforma em um mundo inteiro construido. Cheio de conquistas e lutas...quedas, sustos, choros e depois o sorriso como se nada tivesse acontecido.
Nossas brigas duravam o tempo da próxima brincadeira. Depois ficavamos amigos para sempre. Tempos de amores e juras eternas firmadas com chiclete ping pong, bala 7belo e pirulito Zorro.
E a menina que olhava os meninos jogando bola em pela chuva de verão no finalzinho da tarde, talvez, não existisse realmente. Quem sabe foi o resquicio de uma fantasia que a memoria se apossou como verdade. Mas a menina ficou na memória. Tão real quanto o brilho do sol que faz os olhos fecharem . Como o vento que refresca o calor.
Neste finalzinho de tarde percebi que àquela menina da janela era real. E depois de muitos verões e chuvas e janelas...quando olho as janelas das meninas dos seus olhos, sinto que ela sempre esteve ai. Mais perto do que eu imaginava.
Continuo te olhando...a chuva cai intensamente...seguro a bola de futebol...e continuo olhando-te, para que o mundo inteiro seja do jeito que a gente sonhe...