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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

No front:



No front: É nestas horas, parado no ponto de onibus deserto, às tres da madrugada, completamente bêbado e sozinho é que eu me pegunto: 

- Sera que eu realmente existo ou isso tudo é uma piada de mau gosto? 

E a resposta me chega pela chuva que começa a cair, intensamente. 

Ela é uma bencao para qualque retirante.

Começo a rir até vomitar toda a noite passada.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

“Pra onde tenha Sol...É pra lá que eu vou...”




"Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas...continuarei a escrever."
Clarice Lispector



Leva-se tempo para conseguir entender um sonho. Depois do tempo que leva, percebe-se que toda a explicação já não faz sentido. 

O único propósito de ter sonhado é o de te fazer seguir em frente. 

Digamos que você acorde de um sonho lindo, mas um sonho dentro de outro sonho. Porém você percebe que ainda esta em um sonho, mas não tão lindo como o de antes. Encontra uma estradinha que vai de você ao infinito para frente e o infinito para trás de você. A única certeza que você tem é a de caminhar para frente e pára nisso. Por que você só tem certeza onde fica a frente, pois acordou no próprio sonho virado para esta direção. E não adianta perguntar ao "Gato" qual o caminho certo. Ele vai dizer que para quem não sabe onde quer ir qualquer caminho serve. Então eu caminho “Pra onde tenha Sol...É pra lá que eu vou...” Mas o q vem é chuva. E eu cuidando de um cachorrinho que encontrei no caminho. Depois da chuva, lama; depois da lama o sol e em seguida poeira e suor. Os pés já não agüentam mais... o cão já tem um ano e meio. E você decide que ele deve seguir o caminho que tem vontade de ir.  Neste momento você para no meio da estrada, senta-se ao chão e chora por não se sabe ô que. E fica triste e com frio e não sabe o que está sentindo realmente. Quando decide voltar a caminhar os pés já não agüentam o peso do corpo de tanta dor. Você chora mais um pouco....fica triste...tem saudades dos primeiros passos; e do cachorrinho ;e do que sentia naquele momento. Então você percebe que esta chegando em algum lugar...e o lugar que você chega é o mesmo de onde havia partido antes. Neste momento você pára e dorme ou tenta dormir...o sono não vem...e você escreve isto que está sendo escrito no momento que se escreve...e toma a decisão de seguir em frente de acordo com o script. 

O roteiro de sua vida em sonho continua o mesmo e o que mudou foi Você, eu...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Saborosa Liberdade




Solange caminha pela ciclovia nesta manhã chuvosa. Caminha com senão quisesse voltar. Ela pensa no filhinho de um ano que deixou em casa logo depois de amamentar. Lembra da filhinha de dois e do mais velho de sei que precisa ir para a escola. Solange tem um ritual. Ela se faz bonita todos os dias antes de caminhar para se fazer bonita depois de caminhar. Modela os cabelos com creme em forma de cachos. Maquia-se com batom, lápis de olho e coloca no pescoço algumas gotas de seu melhor perfume e sai as cinco da manhã. Não importa como esteja o tempo. Frio, calor, nublado... ela apenas sai de casa. Neste dia ela queria perde algo mais do que os quilinhos ganhos depois da gravidez de seu ultimo filho. Pois isso não se importa em sair com o tempo feio. Não estava chovendo, mais parecia que o céu iria desabar. O que a faz sair neste dia era a angustia que tinha no coração. Queria que essa angústia saísse de seu corpo como o suor. Na noite anterior o marido de Solange havia chegado bêbado em casa, tarde da noite. Como era de se esperar, como em outras noites, a discussão começou. Cobranças, acusações e pressões... o marido sabia ser cruel quanto falava com Solange. Disse que ela estava feia e mal cuidada e que não merecia ter ele como marido. Palavras que machucaram tanto a Solange que se calou. Nem lagrima conseguiu sair de seu rosto. Ela não pregou os olhos à noite toda e saiu de manhã neste dia chuvoso.
Os primeiros passos foram tortuosos, vacilantes... mas ela continuou caminhando. Sem rumo seguiu em frente. Solange não era mais Solange... caminhava enquanto a chuva fina começa a cair. Ela não pára, segue em frente. O corpo e o espírito precisam ser libertos. Ela aumenta o passo gradativamente. E a chuva acompanha o passo de Solange e começa a cair mais forte. Os cachos de Solange se perdem com a força da chuva. E a maquiagem vai se desfazendo e manchando todo o seu rosto. Agora se misturam em sua boca a chuva, o suor e as lágrimas... ela corre com mais intensidade. A deusa protetora dos sonhos perdidos se enfurece junto com Solange e a tempestade aumenta. Trovões ecoam ao longe... Solange continua a correr. Sem pensar em como vai voltar... e corre; e corre; e corre....até parar exausta e cair de joelhos ao chão. Uma voz que vem da alma e se propaga no espaço como trovão: FODA-SE!!!
Como em uma orquestra harmonicamente ensaiada a cada “foda-se” que ela gritava, vinha acompanhada por um trovão. Ela gritou. As lágrimas cessaram e o tempo também. Ela disse Foda-se para todos os que não a achavam capaz. E gritou contra o próprio medo de ser feliz.
Pela primeira vez sentiu a liberdade que o tempo lhe roubara. Essa Saborosa Liberdade de ser feliz.