terça-feira, 14 de abril de 2009
Lopes: o palhaço mais triste do Circo Encantado
Lopes puxa o seu burro-sem-rabo durante a madrugada. O silêncio intercalado pelos ruídos dos carros se misturam e invadem a sua mente.
Olha nas ruas e percebe os moradores de ruas, alguns são amigos seus. A rua é fria nestas manhãs. O frio galopa por suas pernas e segue em direção a sua coluna se perdendo num suspiro de saudades de não sabe o que.
Encosta a carrocinha na calça, senta-se no chão e, de súbito, lembra o seu tempo de criança no interior de Pernambuco.
Família humilde, 12 irmãos dos quais 4 não vingaram, morreram ainda anjinhos. O que o pai tinha de rude e áspero a mãe tinha de doce e compreensiva.
Aos 12 anos falou para o pai que tinha o sonho ser ator e escritor. Tão rápido desfez o sonho quanto ganhou o tapa que no rosto.
“ – Filho meu tem quer ser homem. E trabalhar trabalho de homem. Estudar e ser ator são pra filho de Doutor. Vai já pra roça e traga o nosso sustento e deixa de bobeira!”
E Lopes foi...carregando a fúria em seu peito de não saber por que tinha levado uma tapa. Foi trabalhar no roçado. Trabalhou tanto que as suas mãos se fizeram carne viva. Mas o ódio que sentiu com a atitude do pai adormeceu as suas mãos. E dormente ficou o seu coração. Naquele dia trabalhou ate que o sangue pintasse o cambo da enxada. E trabalhou ate os machucados virassem calos e os calos tornassem a sangrar. E assim se seguiram os dias.
Tamanha eram a raiva e a tristeza de Lopes que nem o carinho da mãe o curava do que estava sentimento.
E os anos passaram...quatro invernos de trabalho forçado. Sempre prisioneiro de um mundo que não era o seu. Sozinho arou todo o terreno, pintou a casa, fez toda a cerca e cavou o posso. Cheio de palavras sufocas estava o seu pequeno caderninho que guardava a sete chaves.
Para sua sorte ou azar apareceu um circo mambembe na cidadezinha onde morava. Foi quando conheceu Adriana. Ajudante de mágico e trapezista. Só a viu uma vez. Mas foi o suficiente para ele largar tudo e ir atrás do circo.
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